Cacau Show: entenda as denúncias contra a empresa de chocolate
Marca tem sido alvo de diversas denúncias de franqueados e funcionários
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Siga noA Cacau Show, maior rede de chocolates finos do Brasil, tornou-se alvo de uma investigação conduzida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) por denúncias de franqueados e funcionários contra a empresa. São diversos relatos de abuso, falas preconceituosas e até de rituais que assemelhariam a franquia à uma seita. A empresa de Alê Costa nega todas as acusações.
Tudo começou pela franqueada Naira Alvim, do interior de São Paulo, usar as redes sociais para contar como adquiriu dívidas e problemas de saúde mental ao comandar uma loja por cinco anos. Ao Estado de Minas, ela disse que a promessa era de que o investimento inicial era de R$ 150 mil, mas que ela gastou mais de R$ 300 mil para abrir e reformar a unidade. Cinco anos depois, ela acumula uma dúvida de R$ 600 mil e perdas que ultraam a cifra de R$ 1 milhão.
Segundo ela, a margem de lucro prometida não era o tanto que ela recebia, além de haver má gestão de estoque e taxas que surgiram no caminho. “A loja vendia, mas o dinheiro não ficava. Quando questionei cobranças e pedi para fechar, ouvi que eu não era ‘interessante’ para a rede”, disse Naira à reportagem.
Naira afirma ainda que, ao tentar fechar a loja por conta dos prejuízos, foi desencorajada pela própria franqueadora. “A orientação era: ree a loja. Fechar não pode, porque prejudica a imagem da marca. Então você sai endividado, e eles continuam ganhando com a taxa do novo franqueado”, narrou.
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Ela também relata que, após questionar cobranças e metas, ou a ser tratada como “não interessante” para a rede. “Depois que parei de sorrir e comecei a perguntar, a porta se fechou. Nunca mais consegui contato direto com a regional”, afirmou.
A partir do momento em que decidiu tornar pública sua experiência com os posts e três livros., Naira começou a receber mensagens de franqueados e ex-funcionários com relatos semelhantes. Entre eles, estão descrições de rituais internos, nos quais colaboradores, após retirarem os sapatos, seriam convidados a entrar em uma sala escura, iluminada por velas, onde acompanhariam o fundador da marca, Alê Costa, repetindo cânticos em círculo.
Outros relatos apontam para práticas como manipulação de painéis de desempenho, jornadas extensas de trabalho, reembolsos insuficientes em viagens corporativas e até pressão para que funcionárias evitassem gravidez. Parte dessas denúncias foi anexada ao material entregue ao MPT.
“Teve gente que me escreveu dizendo que pediu demissão depois do nascimento do segundo filho porque ouviu de um gestor que 'não dá para ser mãe e ser liderança aqui'”, relata.
A Associação União de Franqueados, da qual Naira faz parte, está assessorando o caso e reunindo documentação de outros empreendedores. Segundo a denunciante, a procuradora responsável pelo procedimento já iniciou a oitiva de testemunhas. O MPT, procurado, confirmou que há investigação em curso, mas, por se tratar de apuração sigilosa, não forneceu detalhes.
Até o momento, a Cacau Show não anunciou medidas judiciais contra a ex-franqueada, nem confirmou se abriu apuração interna ou se houve contato com o Ministério Público. Em nota, reforçou sua posição institucional: “Vivemos para, juntos, tocar a vida das pessoas. Seguimos trabalhando firme, sem segredo, sem mistério. Só trabalho e chocolate, mesmo.”
Naira, por sua vez, afirma que não move a denúncia por vingança, mas por dever. “Não quero destruir uma marca. Quero impedir que mais gente entre sem saber o que vai enfrentar. Porque quando você assina aquele contrato, ninguém te diz que você vai sair com dívidas e remédio controlado no armário.”
O que diz a Cacau Show
No início da semana, a Cacau Show emitiu uma nota dizendo ter sido “surpreendida por publicações inverídicas” e classificou os relatos como “ataques injustos à nossa história, aos nossos valores e, principalmente, às milhares de pessoas que constroem essa marca com integridade e amor”. A empresa diz manter uma relação baseada em confiança com seus franqueados e destacou que mais de 50% deles estão na rede há mais de sete anos.
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No comunicado, a empresa rebateu especificamente dois pontos. Sobre o chamado “ritual do cacau”, afirmou que se trata de “uma vivência sensorial com o líquor de cacau — 100% cacau, não alcoólico — oferecido como experiência cultural e gastronômica”. Já em relação às orações realizadas em eventos da marca, afirmou que são manifestações “voluntárias e respeitosas à liberdade de crença”.
Leia a nota completa:
“Comunicado Oficial – Cacau Show
Da família Cacau Show a todos os Brasileiros
Nos últimos dias, fomos surpreendidos por publicações inverídicas sobre a Cacau Show que circularam na internet. São ataques injustos à nossa história, aos nossos valores e, principalmente, às milhares de pessoas que constroem essa marca com integridade e amor.
Temos uma trajetória de mais de 37 anos, construída com trabalho sério, respeito, verdade e coragem.
Somos a maior rede de chocolates finos do mundo, a maior franqueadora do Brasil, com quase 5 mil lojas e mais de 22 mil pessoas em nosso ecossistema — e cada uma delas merece respeito.
É indignante e entristecedor a deturpação de alguns momentos simbólicos que são tão especiais para a nossa cultura.
A gratidão no fim de ano é uma prática espontânea, marcada por acolhimento e liberdade. A oração do “Pai Nosso”, quando feita, é voluntária e respeitosa à liberdade de crença. Promovemos um ambiente de trabalho ético, inclusivo e que valoriza a diversidade.
O chamado “ritual do cacau” é uma vivência sensorial com o líquor de cacau — 100% cacau, não alcoólico —, oferecido como experiência cultural e gastronômica, inclusive em nossos hotéis. Uma forma de celebrar nossa principal matéria-prima.
Nada disso fere valores — pelo contrário: reforça o que somos. Uma empresa humana, com alma, que ouve, que caminha junto, que constrói com coragem e verdade.
Com os franqueados, temos uma relação baseada em confiança e parceria de longo prazo — mais de 50% deles estão conosco há mais de 7 anos, representados por um maduro Conselho de Franqueados.
Enfrentamos juntos o aumento de mais de 300% no preço do cacau, a instabilidade econômica e até um incêndio em nossa fábrica de Linhares.
E mesmo assim, seguimos crescendo. Investimos em logística, ampliamos a fábrica e estamos construindo um novo centro de distribuição.
Não porque é fácil. Mas porque temos um propósito que nos move.
Vivemos para, JUNTOS, tocar a vida das pessoas.
E não vamos permitir que distorçam quem somos.
Nosso sucesso é fruto de paixão, trabalho e ética. Nós ouvimos as pessoas. Temos compromisso com a verdade. Seguimos trabalhando firme, sem segredo, sem mistério. Só trabalho e chocolate, mesmo.”