Sistema público de saúde na Bolívia ameaçado por falta de medicamentos, alertam especialistas
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Siga noO sistema de saúde pública da Bolívia está à beira de uma crise pela falta de medicamentos para tratar pacientes graves, devido à escassez de dólares no país para importá-los, alertaram representantes do setor médico à AFP nesta sexta-feira (6).
"O pouco que há já está acabando nestes dias" nas farmácias dos hospitais públicos, disse Fernando Romero, presidente do Sindicato de Especialidades Médicas de La Paz.
Em meados de abril, a Defensoria Pública interveio em 20 hospitais públicos em todo o país e determinou que nove deles não tinham estoque de medicamentos necessários para seus pacientes.
Atualmente, "para pacientes com doenças graves, não há medicação, não há o básico", acrescentou Romero à AFP.
Rolando Iriarte, presidente do colégio médico de Cochabamba (centro), alertou que as farmácias públicas também estão vazias e até faltam os itens cirúrgicos mais básicos, como cateteres, anestésicos e sondas.
Já nas farmácias privadas daquela região, os preços de alguns medicamentos aumentaram mais de 200%.
"Nunca vi uma situação tão difícil", acrescentou Iriarte.
A Bolívia sofre uma grave escassez de dólares devido ao declínio das exportações de gás. O governo praticamente esgotou suas reservas líquidas internacionais para importar combustíveis, que vende no mercado interno a preço subsidiado.
Os importadores, incluindo os de medicamentos, já não encontram dólares pelo valor oficial de 6,97 bolivianos por unidade nem em bancos nem em casas de câmbio. Eles recorrem ao mercado paralelo, a 16,5. Isso encareceu os produtos e insumos importados.
Segundo Romero, o problema é que o Estado calculou os orçamentos para comprar os medicamentos com base no dólar oficial.
E com ofertas tão baixas, ele aponta, nenhuma empresa participa das licitações para importá-los.
Wilfredo Anzoátegui, presidente do colégio médico de Santa Cruz, o departamento mais rico da Bolívia, afirma que a situação é generalizada nos nove departamentos do país.
"[Queremos] ser atendidos pelo Ministério da Saúde" para coordenar soluções, diz o dirigente. "Não tivemos nenhuma reunião desde o início deste governo", lamentou.
gta/atm/lm/rpr