‘Nudes’ em escola: MPMG apura denúncias de adolescentes de colégio de BH
Órgão afirma estar ‘comprometido com apuração rigorosa dos fatos’. Alunos teriam criado imagens falsas de colegas seminuas e nuas
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Siga noA Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes de Belo Horizonte está analisando as denúncias de adolescentes que teriam sido expostas nas redes sociais por meio de montagens com uso de inteligência artificial. Os possíveis crimes vieram a público nessa terça-feira (3/6) depois que uma influenciadora publicou um vídeo afirmando que um grupo de alunos do Colégio Santa Maria, no Bairro Floresta, criou fotos falsas de alunas da instituição seminuas e nuas.
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) foi acionado pela deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), presidente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A parlamentar também enviou um ofício à direção do colégio, solicitando informações sobre o caso e questionando quais medidas foram tomadas para que os suspeitos da produção, divulgação e compartilhamento do material sejam responsabilizados.
Na denúncia ao MPMG, a deputada solicitou "urgente apuração e responsabilização dos agentes pelo registro, divulgação e manipulação criminosa das imagens e proteção e acolhimento às alunas alvos desta exposição indevida e suas famílias, conforme proteção prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente".
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Em nota, enviada à reportagem, o MPMG afirmou que a promotoria com atribuição para atuar no caso está analisando as denúncias. Além disso, o órgão reforçou que está “comprometido com a apuração rigorosa dos fatos”.
Desde que as denúncias vieram à tona, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) instaurou um inquérito para investigar a origem das imagens. A delegada Larissa Mayerhofer, chefe da Divisão Especializada em Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente da PCMG, afirma que assim que alguns pais compareceram à unidade policial, uma ocorrência foi registrada.
“De imediato, as investigações se iniciaram de forma sigilosa buscando preservar a integridade das pessoas envolvidas. Fica também o alerta para os pais que caso tomem conhecimento, através de seus filhos, de fatos semelhantes envolvendo uso indevido de suas imagens para que façam o devido acolhimento e compareçam à unidade policial”.
A corporação orienta que possíveis vítimas procurem a Delegacia de Atos Infracionais, na Rua Rio Grande do Sul, 661, no Bairro Barro Preto, na Região Centro-Sul, para denunciar.
Divulgação indevida
A mãe de uma aluna da instituição, que pediu para não se identificar, contou em entrevista ao Estado de Minas que o assunto chegou no grupo de pais e responsáveis de estudantes do colégio. “Parece que são fotos das meninas nuas. Eles pegam fotos do rosto delas nas redes sociais e colam, com inteligência artificial, em corpos nus”.
Em relatos, divulgados nas redes sociais, algumas alunas afirmaram que as fotos alteradas foram compartilhadas em grupos da escola e em fóruns de um aplicativo de mensagem. No vídeo que expõe a situação, a influenciadora de BH, Ive Moreira, explicou como a divulgação das imagens falsas acontece.
“Grupos foram criados tanto no Telegram quanto no WhatsApp e as fotos dessas meninas eram divulgadas ligadas ao nome e a pessoa delas, como alunas da escola, como pessoas que esses meninos conheceram no interior da escola e tem o no interior da escola”.
Além disso, a jovem afirma que as vítimas têm sido coagidas na escola e são feitas de chacota. “Os meninos que fizeram isso (as fotos falsas) riem dessas meninas e andam atrás delas nos corredores. Essas meninas tem que apagar as fotos delas no Instagram, porque eles vão no perfil delas para pegar uma foto delas de roupa e transformar numa foto delas sem roupa”.
Para a mãe, que conversou com a reportagem, além de procurar os culpados, o colégio tem que investir na conscientização dos alunos. Ela ainda afirmou que a instituição, até o momento, não entrou em contato com as famílias para falar sobre o caso.
“Em conversa com a mãe de outras alunas, ela me disse que o colégio está buscando os culpados para puni-los. Mas eu acredito que seja necessário maior investimento na conscientização de todos, em um trabalho que una escola, família, alunos, polícia, conselho tutelar. Eles precisam ter consciência, sabe? São adolescentes”, disse a mulher.
O que disse o colégio
Em nota, o Colégio Santa Maria afirmou que, diante das denúncias, tem adotado medidas pedagógicas e jurídicas. A instituição afirmou que tem acolhido e escutado as vítimas e seus familiares, e convocou o suposto autor e seus familiares para uma escuta. Além disso, estuda a aplicação de medidas disciplinares conforme o Regimento da Instituição e intensificação de atividades formativas nas turmas do ensino médio sobre bullying e suas consequências jurídicas.
"O Colégio Santa Maria Minas lamenta o ocorrido e reafirma seu compromisso com a promoção de um ambiente escolar seguro, acolhedor e pautado pelo respeito mútuo. Todas as providências estão sendo tomadas com responsabilidade e transparência, em consonância com os valores institucionais e a legislação vigente. A instituição permanece à disposição das autoridades competentes e das famílias envolvidas para esclarecimentos e encaminhamentos necessários".
A nota ainda informa que o colégio desenvolve sistematicamente atividades educativas voltadas ao uso ético e responsável da tecnologia, contemplando medidas de prevenção e combate das diversas formas de violência que ameaçam crianças e adolescentes, no mundo concreto e no ambiente digital. A instituição irá comunicar o Conselho Tutelar, Ministério Público e Delegacia de Crimes Cibernéticos sobre o ocorrido.
Segundo o professor Paulo Leite, do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino no Estado de Minas Gerais (Sinepe), até o momento, o sindicato não foi acionado para apoio no caso denunciado no Colégio Santa Maria. “Todavia, temos, sim, recebido de outros associados, solicitação de apoio e respaldo legal, pedagógico e istrativo em situações semelhantes. Infelizmente, está muito mais comum do que se imagina”.
Paulo explicou que o sindicato vem promovendo orientações legais e pedagógicas, desde cursos e capacitações em fóruns e seminários específicos sobre o assunto, reuniões, programas e debates em redes sociais e projetos de consciência e integração.
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“As tratativas para essas situações envolvem também aplicações referentes às consequências dessas ações junto aos próprios estudantes. A própria proibição do uso de celulares acaba dizendo respeito a situações assim também. Em eventos assim, a partir do entendimento e da revelação dos autores dessas ações, as instituições de ensino promovem desde acareações propositivas, ando por trabalhos de reeducação e conscientização dos envolvidos e, mesmo, se necessário, a suspensão e a expulsão de estudantes que venham a desenvolver essas atitudes”, explicou o professor.