AINDA EM INVESTIGAÇÃO

BH: laudo descarta que torta de frango tenha sido envenenada, diz advogado

Uma idosa morreu e duas pessoas ainda estão internadas após comer salgado com gosto de azedo em padaria de BH. Investigações ainda estão em andamento

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A torta de frango consumida em Belo Horizonte por três pessoas em abril, que foram internadas com sintomas de intoxicação, não estava envenenada. A primeira resposta para o caso foi revelada por um laudo do Instituto de Criminalística da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) que analisou o sangue e a urina das vítimas. A informação foi exposta pela defesa de Ronaldo de Souza Abreu, padeiro que estava sendo acusado pelo proprietário do estabelecimento.

O caso aconteceu em uma padaria no Bairro Serrano, na Região da Pampulha. Cleuza Maria de Jesus, de 78 anos, morreu dias após comer o salgado e ficar internada em estado grave. Magno Dantas, advogado do padeiro, afirmou que o resultado do exame comprova o que seu cliente vinha falando desde o início das acusações.

O defensor explica que os exames toxicológicos, feitos a partir de coletas de sangue e urina dos três pacientes, apontaram que não havia nenhum composto incomum que representasse uma possível intoxicação. 

“Agora, minha atuação vai ser na vara cível, criminal e trabalhista contra o dono da padaria. Na Cível vamos entrar com um protesto por danos moral e material. Na esfera trabalhista, por ele ter alegado que meu cliente era apenas um freelancer, sendo que apesar do pouco tempo lá, ele havia sido contratado. E na esfera criminal vamos processá-lo por calúnia”, afirma Dantas.

O advogado diz que o cliente está aliviado com o resultado do exame. Ele afirma que o teste comprova o que já vinha falando e agora vai querer ser reparado. 

A reportagem procurou a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), para informações sobre o andamento das investigações, mas até a publicação desta matéria não obteve resposta. 

Acusações de envenenamento

Quando a família foi internada, em 22 de abril, ao ser questionado pela Polícia Militar, o proprietário da padaria afirmou que o padeiro responsável pela produção dos produtos em questão estava atuando como ajudante temporário por apenas seis dias, e que não tinha nenhuma informação sobre endereço, nem contato telefônico, sendo que seus pagamentos foram feitos em dinheiro vivo. Ainda seguro o relato do empresário à PM, um incêndio ocorrido dias antes danificou as câmeras de segurança, impossibilitando a obtenção de imagens do padeiro.

A reportagem procura o dono do estabelecimento desde o dia dos fatos, mas até o momento não obteve resposta. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Fábio Silva contou que soube apenas no dia anterior que o funcionário havia confidenciado a colegas que estava com problemas conjugais. Por isso, o empresário suspeitava que o padeiro tinha a intenção de envenenar a companheira, mas acabou se enganando e deixou o alimento adulterado na padaria. 

"A bomba [das possíveis contaminações] veio à tarde, e à noite eu juntei as peças. Ele ia matar a mulher envenenada e acabou colocando três pessoas no hospital e eu ando por essa situação, por esse pesadelo", afirmou Silva. No entanto, as suspeitas do empresário não constam no boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar, às 18h40. 

Questões sanitárias

O fator que culminou na morte de Cleuza e na internação do casal ainda está longe de ter uma explicação definitiva. Logo após a interdição da padaria, em 23 de abril, o padeiro responsável pela produção da torta, recém-contratado e com apenas seis dias de trabalho no local, apresentou-se espontaneamente à Polícia Civil, no Bairro Alípio de Melo, Região Noroeste de Belo Horizonte. Ele foi ouvido, negou qualquer envolvimento criminoso e foi liberado.

Na delegacia e à imprensa, o padeiro apontou precariedade nas condições de higiene e armazenamento da padaria como potenciais causas da contaminação. Segundo ele, os alimentos eram guardados de maneira inadequada, expostos a riscos de contaminação cruzada. A esposa do padeiro, Ruth Lazarini, reforçou essa denúncia ao Estado de Minas, relatando que o marido frequentemente comentava sobre a falta de cuidados básicos no local. 

“A higienização da padaria, pelo que meu marido me contava, não era de boa qualidade, não. Eles mantinham muitos alimentos jogados e não havia aquele cuidado com os alimentos que tinha que ter. As comidas ficam todas juntas e abertas dentro do congelador”, disse na ocasião. Ruth contou ainda que o marido levou para casa uma torta de frango preparada na mesma fornada da vendida ao casal, e que nenhum familiar teve problemas.

A Vigilância Sanitária realizou nova vistoria na padaria em 28 de abril, quando apreendeu todos os produtos irregulares segundo as normas sanitárias. O restante, que estava dentro dos padrões, foi recolhido pelos funcionários. Desde então, o estabelecimento está fechado. 

Intoxicação

Cleuza Maria de Jesus, de 74 anos, estava internada desde o dia 22 de abril, depois de ar mal ao comer uma torta de frango comprada na padaria Natália no dia anterior. A sobrinha da aposentada, Fernanda Isabella de Morais Nogueira, de 23 anos, e o namorado dela, José Vitor Carrillo Reis, de 24, visitavam a idosa e também comeram da torta, além de uma empada da mesma padaria.

À reportagem, a PCMG confirmou que o corpo da idosa deu entrada no Instituto Médico Legal (IML) por volta das 14h30. Ela teve complicações causadas por uma grave intoxicação alimentar. Assim que os três experimentaram os alimentos, notaram um gosto estranho, azedo, e decidiram devolver o que restou ao estabelecimento.

Horas depois, o casal começou a ter sintomas graves de intoxicação alimentar e precisou ser internado em Sete Lagoas, na Região Central, onde mora. No dia 28 de abril, ambos foram transferidos para um hospital particular em BH. aram três semanas entubados, já receberam alta da UTI, mas, até esta quarta-feira (4/6), continuavam internados.

Já Cleuza, que inicialmente não apresentou sintomas, teve uma parada respiratória um dia depois de comer a torta. Ela precisou ser reanimada pelo filho antes de ser levada a um hospital particular, onde ficou internada até a manhã desta terça.

Resultado dos exames

A principal suspeita para os casos era botulismo, uma intoxicação grave causada por toxina bacteriana. No entanto, exames realizados pelo Instituto Adolfo Lutz (IAL) deram resultado negativo, conforme informou a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) na semana ada. A pasta solicitou análises complementares para investigar outras neurotoxinas e agentes patogênicos que podem ter causado a intoxicação.

A negativa não convenceu os familiares das vítimas. Uma parente, que preferiu não se identificar, relatou em entrevista ao Estado de Minas que os médicos que acompanharam o casal sustentaram, com unanimidade, que o caso se trata de botulismo. Segundo ela, os profissionais explicaram que esse tipo de exame tem alta taxa de falso negativo.

Ela afirmou ainda que os profissionais não têm outra hipótese de diagnóstico e que a família já havia sido alertada por outras pessoas que o falso negativo em casos de botulismo é comum. "Não tem como descartar, eles estão sendo muito precipitados em descartar porque os médicos afirmam com toda certeza”, concluiu. Não há informações sobre como foi conduzido o tratamento da idosa, nem se houve medidas específicas para tratar um possível caso de botulismo.

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O caso segue sob investigação conjunta da Fundação Ezequiel Dias (Funed), da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e da Vigilância Sanitária de Belo Horizonte.

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