Musical "Chatô e os Diários Associados - 100 anos de paixão" chega a BH
Com Stepan Nercessian no papel-título, espetáculo revê parte da história do país por meio da biografia do empresário. Sessões são neste sábado (31/5) e domingo
compartilhe
Siga noRio de Janeiro, 1938. Na sede dos Diários Associados, um baiano magrinho, de violão em punho, faz uma demonstração para um funcionário da Rádio Tupi. Assis Chateaubriand (1892-1968), que ava pelos corredores naquele momento, parou e disse: “Não sei o que vocês estão fazendo, mas pode contratar”.
Leia Mais
Era Dorival Caymmi (1914-2008). A partir de então, o cantor e compositor baiano teve uma longa relação com a emissora, onde lançaria alguns de seus maiores sucessos. “Não houve nenhum grande nome da música brasileira, desde 1924, que não tenha sido lançado ou promovido pelos Diários Associados. Estou falando de Silvio Caldas até o Tropicalismo”, afirma o jornalista Fernando Morais.
Boa parte dessa história vem à tona no musical “Chatô & Os Diários Associados – 100 anos de paixão”, que celebra o centenário do grupo de comunicação do qual o Estado de Minas faz parte. Depois de uma temporada de estreia no Rio de Janeiro, a montagem chega a Belo Horizonte. Será apresentada em três sessões, neste fim de semana, no Sesc Palladium: sábado (31/5), às 15h e às 20h, e domingo (1º/6), às 18h.
Morais, autor da biografia “Chatô, o rei do Brasil” (1994), assina o texto do espetáculo com Eduardo Bakr. Depois de novas pesquisas, o jornalista criou o roteiro, e Bakr ficou responsável pela parte dramatúrgica. A direção é de Tadeu Aguiar.
Na história ficcional, ambientada nos tempos atuais, um jornalista desempregado, Fabiano (Claudio Lins), se depara com a estátua de Chateaubriand na Praça da Independência, no Recife, durante o carnaval. A imagem ganha vida (o magnata das comunicações é interpretado por Stepan Nercessian), reclamando dos constantes roubos de sua caneta. Inicia uma conversa com o repórter e pede a ele que escreva sua história.
Desta maneira, Fabiano vai viajar no tempo, acompanhando as agens mais relevantes da trajetória de uma figura sem igual no Brasil. “Era realmente um personagem ímpar, um visionário. Quando me pedem para comparar Chateaubriand com Roberto Marinho, não dá, pois ele não era apenas um jornalista”, afirma Morais.
Era um monte de coisas para além do jornalista, político e mecenas das artes, os lados mais conhecidos de Chatô. “Pela trajetória dele, é possível recontar, de um determinado ponto de vista, a história do Brasil no século 20”, comenta Morais.
Ele lembra que Chatô estimulou a aviação civil, criando uma série de aeroclubes no Brasil; que foi pioneiro na exportação de frutas; que tinha paixão pela Amazônia, financiando incursões dos irmãos Villas-Boas a territórios indígenas.
“Os métodos não têm importância. O Masp é o único museu do hemisfério Sul que tem um Rembrandt. Ele não deixou para os filhos, para os Associados, para mulher nenhuma, deixou para a sociedade”, diz o biógrafo.
Com um personagem tão rico, o musical concentrou sua narrativa na contribuição de Chateaubriand para os meios de comunicação e a música – a supervisão musical do espetáculo é de Guto Graça Mello.
Além de Nercessian e Lins, o elenco principal conta com Patrícia França e Sylvia Massari. Catorze cantores e atores estão nos números musicais, onde personalidades como Carmem Miranda, Hebe Camargo e Lolita Rodrigues são representadas.
Não custa lembrar que a televisão chegou ao Brasil pelas mãos de Chateaubriand. A história, como muitas outras que ele protagonizou, é saborosa. Para que houvesse gente assistindo à transmissão inaugural, ocorrida em São Paulo, em 18 de setembro de 1950, Chatô conseguiu trazer dos Estados Unidos, via contrabando, 200 aparelhos de TV. Metade foi parar nas lojas. A outra parte o próprio Chatô enviou para empresários, políticos e personalidades. Um dos presenteados foi o presidente Eurico Gaspar Dutra.
Morais, que gosta de música, mas ite não entender de musicais, não é o único “estreante”no projeto. O dançarino e coreógrafo Carlinhos de Jesus assina, pela primeira vez, a direção de movimento e de coreografia de um espetáculo. “Já fiz algumas cenas para musicais que tinham um número de dança, como bolero. Desta vez não, coreografo de ponta a ponta.”
Ele trabalhou lado a lado com o diretor Tadeu Aguiar. “Toda a movimentação que se vê nas cenas, por exemplo. Você vai ver jornalistas em mesas, mexendo com as máquinas de escrever. Tive que pensar na entrada e saída dos bailarinos, de que jaleco vão ter que se desfazer, é uma dinâmica mais carregada de cuidados.” Além disso, Carlinhos coreografou sequências de frevo, bolero e samba, entre outros estilos.
O musical “Chatô & Os Diários Associados” é também uma maneira de o coreógrafo celebrar sua própria trajetória na Rádio Tupi. Há 15 anos, Carlinhos é um dos apresentadores do programa “Samba social clube”, no ar aos sábados, das 13h às 15h, na emissora carioca.
“Quando eu era garoto, ganhei um radinho de pilha importado, bem pequeno, que parecia uma carteira. Só me separava dele quando entrava no chuveiro”, conta ele, que, para o musical, procurou resgatar muito de sua memória afetiva.
“CHATÔ & OS DIÁRIOS ASSOCIADOS – 100 ANOS DE PAIXÃO”
Neste sábado (31/5), às 15h e às 20h, e no domingo (1/6), às 18h, no Grande Teatro Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro, 31.3270-8100). Ingressos: Plateia 1 – R$ 250 (inteira) e R$ 125 (meia); Plateia 2 – R$ 180 (inteira) a R$ 25 (popular, meia); Plateia 3 – R$ 60 (promoção Petrobras-Cemig) a R$ 25 (popular, meia). À venda na bilheteria e no site Sympla.