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Luiz Carlos Azedo
ENTRE LINHAS

Fraudes do INSS afetam a popularidade de Lula na sua base histórica

Para 56% dos brasileiros, o governo atual está pior do que os dois primeiros mandatos de Lula. Esse número, em janeiro, era de 45%

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A pesquisa mais recente do instituto Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira, revela que a desaprovação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atingiu 57%, enquanto a aprovação está em 40%. É o pior resultado da série histórica desde o início do terceiro mandato de Lula. Realizada entre os dias 29 de maio e 1º de junho, com 2.004 entrevistados em todo o país, com margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e nível de confiança é de 95%.

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O caso do INSS, com suas denúncias de fraudes e desvios de recursos, aparece como catalisador dessa erosão de confiança. Para 82% dos brasileiros, a crise foi sentida. E 31% responsabilizam diretamente o governo federal. As fraudes do INSS atingem em cheio a principal base de Lula, as camadas mais pobres da população. Já o aumento do IOF, que pode ser derrubado pela Câmara, amplia o desgaste do governo junto à classe média, ainda mais porque o aumento foi anunciado na última semana de prazo para declarar o imposto de renda.

 


A desaprovação é especialmente alta na região Sudeste, onde 64% dos entrevistados desaprovam a gestão petista, enquanto apenas 32% a aprovam. Além disso, pela primeira vez, a desaprovação supera numericamente a aprovação entre os católicos: 53% desaprovam o governo, contra 49% que o aprovam. Cerca de 45% dos entrevistados consideram que o governo Lula está pior do que o esperado, e 61% avaliam que o Brasil está na direção errada.


De todas as análises que li sobre os resultados da pesquisa, a mais instigante é do sociólogo e cientista político carioca Paulo Baía, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que recorre à antropologia e à psicologia de massas para analisar a situação do governo, num artigo intitulado “O espelho estilhaçado: a rejeição como sintoma político, psicológico e social no terceiro mandato de Lula”, no site Agenda do Poder.


“A política, como espelho das emoções coletivas, vive de afetos. E um deles, talvez o mais avassalador dos nossos tempos, é a rejeição. Não se trata apenas de um juízo racional sobre um governo ou um presidente. A rejeição, como fenômeno psicológico e social, é um campo de forças invisível, mas devastador, que atravessa o corpo coletivo da sociedade como uma febre que não se explica somente pela temperatura externa. Ela condensa frustrações acumuladas, desilusões difusas, sentimentos de traição, desencanto e medo”, enuncia Baía.

 

Fadiga emocional

“A rejeição não apenas se mede nas porcentagens de uma pesquisa, mas também nos silêncios, nas ausências, nas palavras não ditas e nas indignações gritadas”, destaca. Para o cientista político, esse sentimento, com tudo o que ele carrega em sua complexidade afetiva, começa a definir o clima político do Brasil neste 2025. “O governo parece afundar num pântano de ceticismo que vai além da política institucional. O que os números revelam, com o rigor de quem coleta dados e a frieza de quem os interpreta, é um país emocionalmente fatigado, dividido e cada vez mais desconectado do pacto simbólico que elegeu o líder petista pela terceira vez”, conclui.

Agressão misógina e negacionista


Baía recorre à alegaria do “espelho estilhaçado”, onde os fragmentos de aprovação que ainda resistem são ofuscados por múltiplas faces da rejeição, para explicar como o sentimento que se espalha pelo corpo social é o de que algo se perdeu no meio do caminho, “algo entre a esperança e a realidade, entre a promessa e a entrega, entre a memória e o presente”. Para 56% dos brasileiros, o governo atual está pior do que os dois primeiros mandatos de Lula. Esse número, em janeiro, era de 45%.


Não se trata apenas de uma avaliação histórica negativa, mas da sensação coletiva de decepção. “É como se o mito fundacional do lulismo tivesse sido confrontado com uma realidade que não a mais nostalgia”, pondera Baía. Essa desconexão se aprofunda nas bases sociais onde antes havia uma fidelidade quase inabalável. No Nordeste, região que simbolicamente foi a pátria afetiva de Lula, a aprovação caiu para 54%, enquanto a desaprovação subiu para 44%.


Em outras regiões, a rejeição se impõe com ainda mais força: no Sudeste, apenas 36% aprovam o governo, enquanto 61% o desaprovam; no Sul, a aprovação é de 33% e a desaprovação de 65%; no Norte e Centro-Oeste, os índices são de 45% e 52%, respectivamente.

 

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As mulheres, que foram decisivas para a eleição de Lula, agora desaprovam o governo em maior número (55%) do que o aprovam (42%). Entre os homens, 59% de desaprovação, contra apenas 39% de aprovação. A juventude também está distante: entre os que têm entre 16 e 34 anos, apenas 33% aprovam o governo, enquanto 64% o desaprovam. A desaprovação é maioria também entre os adultos de 35 a 59 anos, 54%, e só entre os idosos com mais de 60 anos há algum respiro: 50% aprovam, contra 46% que desaprovam.


Os católicos estão divididos ao meio: 49% aprovam e 49% desaprovam. Já entre os evangélicos, a rejeição é um campo consolidado: 67% desaprovam, enquanto apenas 29% ainda sustentam algum apoio. “A fé, neste caso, parece ter se tornado menos uma promessa de salvação política e mais um terreno de rejeição moral”, destaca o sociólogo. Pela primeira vez na série histórica da Quaest, 44% dos brasileiros consideram o governo Lula pior que o de Bolsonaro, enquanto 39% avaliam o governo Lula como melhor.

 

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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